quinta-feira, 25 de fevereiro de 2010

Você tem medo de que?



(...)

"Medo de olhar no fundo
Medo de dobrar a esquina
Medo de ficar no escuro
De passar em branco, de cruzar a linha
Medo de se achar sozinho
De perder a rédea, a pose e o prumo
Medo de pedir arrego, medo de vagar sem rumo

Medo estampado na cara ou escondido no porão
O medo circulando nas veias
Ou em rota de colisão
O medo é do Deus ou do demo
É ordem ou é confusão
O medo é medonho, o medo domina
O medo é a medida da indecisão

Medo de fechar a cara, medo de encarar
Medo de calar a boca, medo de escutar
Medo de passar a perna, medo de cair
Medo de fazer de conta, medo de dormir
Medo de se arrepender, medo de deixar por fazer
Medo de se amargurar pelo que não se fez
Medo de perder a vez

Medo de fugir da raia na hora H
Medo de morrer na praia depois de beber o mar
Medo... que dá medo do medo que dá
Miedo... que da miedo del miedo que da."

(Trecho de "Miedo", de Julieta Venegas.)

domingo, 1 de novembro de 2009

Para que não se esqueça...


Ouvi alguns passos.
Inquieto, meu cachorro começou a latir. Aflita, saí correndo do banho.
Finalmente a campainha tocou, mas... não era você.
Era só o entregador, com a pizza que eu havia pedido pra nós dois.
Corri para pegar os pratos, os talheres, e quando me dei conta, estava esperando quem não chegaria. Não naquele dia.
Sentei, e lembrei que esqueci do vinho. Fiquei ali, esperando que você o trouxesse, e como sempre, deixasse metade do que trazia cair no chão. Mas nada fez barulho, muito menos escutei braços se debatendo na parede, como sempre faz quando quer trazer tudo ao mesmo tempo.

Por um momento, breve momento, escutei você falando “Amor, o que a gente vai alugar hoje? Mais uma das suas comédias românticas? Eu topo!”...
Mas que respondi pro vento.

Sentei no sofá, coloquei no canal que sempre assistimos naquelas noites geladas, e sem nada pra fazer. Descobri que não é tão engraçado quanto eu imaginava.

Deitei a cabeça no travesseiro. Naquele, onde você deixou seu cheiro da última vez que dormiu aqui.
Escutei nossa música.
Li suas cartas,
Lembrei do seu gosto.
Pensei no seu coração, batendo um pouco antes do sono te levar.
Olhei pra dentro de mim... Mas novamente, não vi você.
Achei que pudesse sentir suas mãos. Te segurei forte, pra não mais escapulir.

Enxerguei seu sorriso, me vendo sorrir, mas não te senti afagando meus cabelos.
Lembra? Você deixou seu casaco aqui. Resolvi pegá-lo pra dormir melhor.
Mas ainda espero que você volte pra buscá-lo.

Independente da insanidade.
Pra que eu não acorde desse sonho. Seja qual for, seja o que Deus quiser:

Que seja você.

quarta-feira, 28 de outubro de 2009

Com os pés descalços...

... e uma intimidade respeitosa, o menino sonhava.
Por mais que escrevesse, não conseguia dizer tudo o que queria.
Amava calado.
Respirava mais do que podia.
Como numa sinfonia de luz, feito de som,
misturou as palavras e as sensações.
Tomou coragem.
Inspirou fundo... E se inspirou.
Olhou para o próprio jardim; e olhou para si mesmo.
Viu cor e razão; sentiu o ar leve.
Nada mais era ou seria como antes.
A esperança era um dom que tinha e si.
Tinha mil sonhos em um.

sábado, 15 de agosto de 2009

Um belo dia para ouvir Roberta Sá.




Que o cenário da música popular vem sendo invadido por jovens intérpretes nos últimos anos, isso é fato. Mas entre tantos que me vieram à cabeça, não poderia deixar de dedicar esse texto em especial à musicalidade dessa moça que veio chegando sutilmente aos meus ouvidos, até transbordá-los.
Essa tal de Roberta Sá vem abrilhantando minhas viagens a PUC, tornando-a até mais divertida e prazerosa, eu diria. Encantei-me por sua voz logo de primeira, quando escutei sua interpretação de “Pelas Tabelas” - Chico Buarque - no “Sintonia Fina”, programa de Nelson Motta na rádio MPB FM.
Como não poderia deixar de ser, o jornalista descreveu a cantora com todos os elogios existentes na língua portuguesa, prevendo um futuro promissor. E não é que ele acertou?

Nascida em Natal (RN), foi apresentada ao Rock dos Beatles e à Bossa Nova pelos pais, logo na infância. Mudou-se para o Rio quando ainda era pequena, e ao completar dezoito, fez um intercâmbio nos EUA, onde estudou canto durante um ano. Ao retornar, fez jornalismo e continuou com suas aulas de canto. Fez vários testes e acabou entrando para o programa FAMA, da rede Globo, onde conheceu Felipe Abreu – irmão da cantora Fernanda Abreu - que se tornou seu preparador vocal e lhe incentivou preparar um show, que foi realizado no Mistura Fina alguns meses depois, e logo após lhe recomendou a gravar uma demo.

Conheceu Rodrigo Campello, que virou seu produtor. Eles gravaram sob encomenda de uma empresa um álbum promocional intitulado "Sambas e Bossas", com grandes sucessos da MPB. Mas foi em 2005 que Roberta lançou seu primeiro álbum intitulado “Braseiro”, com sucessos de grandes nomes, como Paulinho da Viola e o próprio Chico, como também de novos nomes da música nacional, como Marcelo Camelo, Teresa Cristina, Rodrigo Maranhão e Pedro Luís, cuja música leva o nome do CD.

Bom, depois de deixá-los com um belo resumo de sua vida, não poderia esquecer de registrar meu encanto por sua arte. Ela conseguiu unir em sua melodia e voz uma sutileza que poucos conseguem. É agradável, doce, leva qualquer leigo a um entendimento musical, o que é para poucos. Ainda não fui a nenhum show de Roberta, mas pretendo ir em breve e penso que ao vivo, sua dança junto à interpretação contagiante ao cantar, deixe um ar puro e novo. Um ar que a nossa música anda precisando respirar bem mais vezes.

Quanto tempo faz?



Faz tempo que não tenho tempo para ter tempo. Estranho? Nem tanto; Exatamente por isso, tenho ficado isolada mais em pensamentos, não mais em palavras.

Tenho me questionado sobre o que faz as pessoas pensarem que tenho o dom da palavra, ou da escrita? Porque, ultimamente, me reservo ao delicioso dom da observação...
Observo gestos, sorrisos.
Observo diferenças, semelhanças. A maneira como as pessoas se portam no trem pode dar um verdadeiro livro, ou até quem sabe um filme, como diria meu querido cineasta Victor Hugo. Cada dia faço questão de entrar em vagões diferentes; consequentemente fico surpresa com as coisas que escuto. Hoje, por exemplo, ouvi pregações de fanáticos religiosos, e vi quatro pessoas aparentemente sonadas aceitarem Jesus em suas vidas. Até eu vibrei por elas, e a assessoria de imprensa da PUC já deve saber todas as músicas da “igreja” de cor e salteado.
Na volta, ouvi a conversa de duas empregadas, aparentemente reclamando de suas patroas fúteis. A diferença é que as patroas eram Cláudia Raia e Paola Oliveira. Já sei, por exemplo, que a “dona Cláudia pede até para pegar o telefone que ta do lado dela...” e que “dona Paola é novinha, mas é abusaaaaaada...”. Dessa experiência, aprendi que se um dia ficar famosa, não vou pedir favores desnecessários a minha empregada, porque provavelmente ela falará mal de mim pelos trens da vida.

Fatos engraçados a parte, o trem é um verdadeiro orfanato. Não só pelas crianças pedintes, mas principalmente pela carência das pessoas. Elas te olham querendo um sorriso, não só uma moeda. Admiram sua roupa, seu cabelo, suas unhas. Olham nos seus olhos, e esperam que você os veja como verdadeiros, e não só como uma farça.
Você enxerga o que quer enxergar.
Você pode ver uma pessoa com olhos vermelhos de apenas 3 horas de sono por dia; Mas também pode ver olhos vermelhos de choro por não ter o que comer.
Os meus olhos se enchem d’água ao ver os olhos de meninos que perdem o próprio olhar no ar. Geralmente, esses mesmos meninos procuram perfeição nos malabares, e pode acreditar: são perfeitos.
Sua visão é trêmula, procurando o movimento adequado para suas peraltices... E quanto você pensa que não sai mais nenhum sorriso de tamanho sofrimento, ele vem largo, espaçoso, só numa troca de olhares como se dissesse “gostou mesmo, tio?”. Mesmo com tamanho ar denso e aquela infância perdida, ele me dá uma verdadeira aula de como ser feliz, mesmo sem o bendito do tempo que, afinal de contas, para ele não tem a menor importância!

(...)

Agora, observo propagandas e outdoors me dizendo o que fazer no dia. Hoje, dia 14 de agosto, é dia de mexer os dedos dos pés, andar na grama e respirar fundo.
Ah... Eu também posso me apaixonar de novo. Pela vida, pelas folhas do outono, pelo papel e caneta em mãos.
E que felicidade por sentir novamente a alegria de ter tempo. Ainda mais para colocar alguma coisa em prática, alguma dança em prosa, ou alguma poesia em métrica. De ver meus livros e textos voltarem para mim.

domingo, 10 de maio de 2009

Maternal.

Amava ter seus pés junto aos meus!


Eles eram minúsculos, mas encaixavam certo entre os seus nos dias de frio.
Eu era tão pequena... Cabia nos seus braços sem fazer esforço. Me alimentava e te olhava, como se você fosse a mais bela obra de arte já criada - e realmente é.
Seu sorriso me passava tanta coisa boa! E depois de vinte e poucos anos, ele continua o mesmo.
Seu olhar fala sozinho; é entendido pelo meu aos pequenos gestos.
Antes, você me acordava no meio da noite com leite quente pra me curar a tosse. Antes, durante e depois.
Eu fico imaginando de onde eu vou tirar forças pra acordar cedo e cuidar dos meus filhos, marido, trabalhar o resto do dia, chegar exausta, e ainda ter prazer em cozinhar, dar banho, conversar, colocar pra dormir... DE VOCÊ!
Ao dar os primeiros passos, era pra você que eu corria. Começando a andar de bicicleta, foi pra você que eu corri... Nas primeiras decepções, é pra você que eu ainda corro.
E se o pai precisa sair de cena por uma vontade divina, você o substitui assustadoramente bem. Faz o papel de durona quando preciso, flexível quando pode, com um amor bem mais gigante do que poderia me dar.
Amor materno cura depressão, medo, angústia; tira receios, dúvidas. Te dá coragem, te ergue, te move pro mundo.
Quando o namoro termina, você volta a me colocar no colo... Mas que pena! Não consigo mais caber completamente nele.
E se esse mesmo mundo agora já me parece assustador, fico imaginando como devia ser bem mais quando visto pelos meus olhos miúdos. Na verdade, ele até era... Mas era só um frio na barriga momentâneo, das vezes em que eu ficava de cabeça pra baixo no parque tentando ter o céu nos pés; e você insistia em que aquilo ia me fazer mal. Hoje, eu tenho certeza que você daria tudo pra voltar aos problemas como "ficar de cabeça pra baixo faz mal; ficar rodando sem parar vai te deixar tonta" - e logo eu, que só queria ver se conseguia cair pelo céu afora... Ou via alguma musicalidade naquela tontura rápida...
Lembra que eu sentava com você na varanda pra ler o "Aurélio", que mal cabia nos meus bracinhos? Você ria... Achava loucura, mas mesmo assim, continuou a me deixar carregar aquele dicionário gigantesco. Eu me perdia nas palavras, significantes/significados. Perguntava tudo, e você sempre, com grande paciência respondia a todas elas.

Se eu queria teatro, você fazia.
Se eu queria Ballet, você fazia.
Se eu queria leite moça pra ver cinema em casa, você fazia; E ainda me deixava deitar na sua cama, debaixo das cobertas.
Lembra da piscina de plástico, das músicas em inglês errado, do castelo rá-tim-bum de ratinhos cantores e 'umalavaoutramão'? Lembra do Beto Guedes aos 7 anos, e das manhãs em Valença?
Eu lembro... E me arrependo de não ter aproveitado mais.

Como você pôde? Como pôde ser tão perfeita? Você não erra, isso é impossível! É possível? Muito possível.
Você me deu amor a Deus, ao próximo, a mim mesma; me deu amor as letras, aos versos, ao lado "arte" do mundo; você me deu amor aos pequenos detalhes, ao olhar ser humano, ao que eu fosse seguir na vida.
Hoje, se me construí de uma maneira tão bela, foi ao me espelhar em você.
Se tenho sonhos, se estou curada da tristeza, é a você que eu agradeço:


Obrigada, mãe, por ser você... Bem assim, justinho você.
Você é espetacular, é singular. E é pra sempre, aqui comigo.


P.s.: Amo você eternamente.

sábado, 9 de maio de 2009

Boas vindas


Bem-vindos ao "Caminho em nuvens"!
Como o próprio nome sugere, o blog visa textos sobre o meu dia-a-dia, mas com o toque de leveza e descrição. Afinal, por mais estressante que sejam minhas viagens de trem-metrô-ônibus até a PUC, sempre existe peculiaridades que me marcam, algo que difere de tudo... Histórias de vida, de gente, cada um com sua maneira de lidar com o mundo. Vou registrar também minhas angústias, receios e questionamentos, histórias da faculdade, enfim, o outro lado da minha rotina. S
ão exatamente esses detalhes que vou deixar registrado aqui, como um diário - porém, totalmente exposto (risos).
Divirtam-se! Beijos.